O filho de Stº Antônio
(canção de um devoto)
Bem sei, criança estouvada
Que por artes do demônio,
Furtaste, a noite passada,
O filho de Santo Antônio!
E sem medo, sem piedade,
Cheia de um ímpio alvoroço,
O mimo do pobre frade
Correste a esconder no poço!
–
Arrepende-te. Chiquinha,
Vida minha,
Minha linda tentação!
A divindade perdoa,
Terna e boa,
Os erros do coração.
–
Ah! que fizeste, insensata?
Demo gentil, que fizeste?
Por causa de um’alma ingrata
Tu’alma pura perdeste!
–
Tira depressa a criança
Do frio asilo onde está,
Tem nos santos esperança,
Que teu amor voltará.
–
Ainda é tempo, Chiquinha,
Rola minha,
Minha rosada ilusão!
A divindade perdoa,
Terna e boa,
Os erros do coração.
–
Acende uma vela benta
Junto ao santo que ofendeste,
Lançando a mão violenta
Contra o pirralho celeste.
Leva-lhe linda toalha
Cheia de finos bordados,
Talvez a oferta lhe valha
O olvido dos teus pecados.
–
Não te demores, Chiquinha,
Trigueirinha,
Que tens por cetro a paixão!
A divindade perdoa,
Terna e boa,
Os erros do coração.
–
E quando alcançado houveres
A remissão, minha vida,
Mais formosa entre as mulheres,
Vem, mimosa arrependida,
Vem que o santo receoso
De novo furto, quiçá,
Velará por teu repouso,
Nosso amor protegerá…
–
Não percas tempo Chiquinha!
Glória minha!
Minha dourada visão!…
A divindade perdoa,
Terna e boa,
Os erros do coração.
Luís Nicolau Fagundes Varella, (RJ 1841 – RJ 1871) ou Fagundes Varelaleira de L, poeta brasileiro e um dos patronos na Academia Brasileira de Letras.
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